quinta-feira, 14 de junho de 2012

Barretão e Zé Dirceu: bela declaração de amor e respeito


Sempre tirei o chapéu pro Zé Dirceu. Em boa parte de minha militância política, vi nele uma referência bem positiva, e fiquei feliz vendo-o lado a lado com Lula, assumindo, em 2003, o sonho de toda a vida. Estive com ele pessoalmente apenas uma vez, em 2010, em um evento da campanha de Benedita, na Churrascaria Estrela do Sul do Rio Plaza Shopping. Cheguei, ele estava em uma roda de amigos, falei rapidamente com todos e saí para providenciar a projeção de um vídeo. Logo depois tive que ir embora, fui me despedir do Zé e fiquei feliz por saber que ele já (mais ou menos) me conhecia de nome. Assim como fiquei muito feliz com esse texto do Barretão (84 anos!) que recebi por e-mail - ousado, verdadeiro, bom de ler.

Luiz Carlos Barreto - ¿Por qué no lo matan?

Fidel Castro estava fascinado pela beleza e graça das irmãs Nabuco -Nininha e Vivi-, filhas dos anfitriões dona Maria do Carmo e José Nabuco, que abriram as portas da mansão da rua Icatu, no Rio de Janeiro, para recepcionar o líder da vitoriosa revolução Cubana.
Ela viera para agradecer ao embaixador brasileiro em Cuba que, durante os duros tempos de luta contra o ditador Batista, deu apoio aos guerrilheiros do exército fidelista.
Intelectuais e políticos de todas as tendências se misturavam nos salões. Todos procuravam Fidel para tirar um papo, mas o comandante só tinha olhos para Nininha e Vivi.
O pessoal da esquerda, quando conseguia um pouco de atenção, aproveitava para falar mal de Carlos Lacerda, governador da Guanabara.
Cansado e irritado, meio em tom de "broma", de ouvir as queixas contra Lacerda, Fidel, querendo se ver livre, mandou: "¿Lacerda es un hombre como nosotros? ¿Tiene brazos, piernas? ¿Camina por la calle?"
"Si, si", disse um dos "reclamões".
"¿Entonces por qué no lo matan?", disse Fidel, encerrando o papo.
O episódio não me sai da cabeça quando leio, quase todo dia, notícias sobre José Dirceu nos jornais.
O tom é sempre de acusação, tratando de atos e práticas ilegais como se ele, na sua trajetória de animal político militante corajoso, só tivesse contabilizado ações negativas.
Sua trajetória é sempre contada a partir de 2004, como se tivesse nascido com o "mensalão". Não se fala na sua trajetória de líder estudantil que se entregou de corpo e alma à luta contra a ditadura militar. Prisão, exílio, retorno ilegal ao Brasil, clandestinidade -Dirceu jogou sempre toda sua energia pela democracia.
Anistiado, se filiou ao PT, coerente com sua visão de mundo.
Sua disciplina, sua vocação de estrategista, sua capacidade de trabalho e seu talento de transformar teoria em ação o elevaram a líder do PT. Afirmou-se assumindo sem medo a tarefa de acomodar no partido as diversas tendências, desde as mais radicais de esquerda às quase conservadoras, consolidando o primeiro partido de massa do Brasil.
Dirceu, apesar de sua formação de classe média e conhecimento acadêmico, teve a capacidade e humildade de entender o papel reservado a Lula. Reconhecendo a sua inegável qualidade de líder de massa, soube estruturar com o PT e a sua militância a grande revolução pacífica e democrática acontecida em toda a história republicana do Brasil.
Nos primeiros dois anos, a desconfiança das classes dominantes em relação ao governo Lula era enorme, como confidenciou-me um parrudo banqueiro: "Não sabíamos qual seria o exato momento que o governo Lula viraria a mesa".
Não se pensava noutra coisa a não ser evitar que Dirceu tivesse tempo e espaço para isso. Num desses almoços de entidades empresariais, ouvi o seguinte: "Zé Dirceu é a cabeça pensante, Lula é o líder mobilizador do sentimento popular. Vamos cortar a cabeça que o corpo cai".
Os oito anos de Lula serviram para destruir o mito de virada de mesa; o que o Lula virou mesmo foi o jogo do poder, priorizando políticas para as áreas social e econômica, o que resultou no Brasil de hoje, cada vez mais sólido internamente e respeitado internacionalmente.
O governo Lula mostrou também que José Dirceu não é uma cabeça sem corpo e que nem Lula é um corpo sem cabeça. Eles são carne e osso, são "hombres como nosotros y caminan por las calles".
"¿Entonces por qué no los matan?"
LUIZ CARLOS BARRETO, 84, é produtor cinematográfico. Produziu, entre outros, "Lula, o Filho do Brasil", "Dona Flor e seus Dois Maridos", "O que é Isso, Companheiro?", "O Quatrilho" e "Bye, Bye, Brasil"

domingo, 3 de junho de 2012

Palmas para Gilmar, ele (des)merece!


Ninguém, além dos personagens presentes, pode descrever exatamente o que aconteceu no encontro (casual? proposital?) entre Lula e Gilmar Mendes que gerou tanta polêmica. É uma questão de acreditar ou não acreditar nas versões dos fatos. Eu acredito no Lula. Por sua história, por suas ações, por tudo que fez pelo Brasil. Consequentemente, não acredito em Gilmar Mendes. Mas me surpreendeu a sua ousadia em colocar tanta aversão no ventilador. Que motivos terá tido? Vejo pelo menos dois, que podem até se fundir em um único. Primeiro, de ordem pessoal. Ao sair na frente com a sua versão do encontro, ele ganharia credibilidade (coisa que parece que lhe tem faltado). Segundo, de ordem política. E aí já não estaria agindo por conta própria – estaria a serviço da oposição tucana que busca uma forma de desviar a atenção da questão principal no momento (que é a CPI de Cachoeira), e trazer de volta 2005 com seu "mensalão". Pessoalmente, acredito que os nomes envolvidos no chamado processo "mensalão" não estão tão preocupados em que a sentença - favorável ou não - saia agora ou em 2013 - afinal, o mal maior a eles já foi feito. Perderam seus cargos, perderam sua imagem, agora seja o que Deus quiser. Mais importantes pra eles - e todos nós, claro - é que o desenrolar do processo não seja usado para outros fins, como as eleições municipais próximas. Nessa perspectiva, Lula não teria o menor interesse em influenciar o resultado. No máximo seu interesse seria não misturar a cenografia do julgamento com o momento político, momento absolutamente inoportuno, por tentar influenciar o eleitor, como feito anos atrás. Gilmar Mendes sabe disso melhor do que ninguém. E se é verdade que está mentindo, foi brilhante ao pegar carona no uso político do “mensalão” para melhorar a própria imagem. Ainda tentou se identificar com o próprio Supremo – como se isso fosse possível. Ou melhor, se isso é possível, com certeza esse não é o Supremo que o país espera ter. De qualquer maneira, devemos reconhecer que para quem sempre viveu do marketing das caras e bocas, até que o ministro se saiu bem na tarefa de estimular aversões aos fatos. Ou não?