quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Grécia vai reinventar a Europa


Como Tales de Mileto (o primeiro filósofo ocidental, um grego que nasceu onde hoje é a Turquia), Geórgyios Papandréou é um grego que nasceu fora (Saint Paul, Minnesota, USA), estudou em Toronto, Amherst (Massachussets), Estocolmo, Londres e Cambridge (na Universidade de Harvard, também Massachussets). Formou-se em relações internacionais, economia e sociologia. Seu avô foi três vezes primeiro-ministro grego. Seu pai também foi. Foi para a Grécia com a volta da democracia, em 1974, e tornou-se ativista do mesmo partido do seu pai, o Movimento Socialista Pan-helênico (PASOK, na sigla em grego). Quer dizer – embora tenha a cara do Patácio Peixoto da novela “Cordel “Encantado”, não tem nada de bobo. E acaba de provar isso, colocando no bolso todos os grandes líderes europeus, principalmente Sarkozy e Merkel. Quando todos achavam que Papandréou aceitaria feliz o “perdão” de 50% da dívida grega, ele deu um golpe de mestre, resolvendo submeter a aprovação do “acordo” a um referendo popular. Na verdade, esse “perdão” de 50% só agradou ao mercado financeiro. Na prática, a dívida continuava impagável (120% do PIB grego) e continuava exigindo um plano de austeridade máxima, com  redução de salários de servidores e aumento de impostos. Em outras palavras, fim de papo para o povo grego. Nem Papandréou nem a democracia teriam condições de se manter de pé. A resposta do referendo, caso aconteça, é óbvia: rejeição dos termos do “perdão”, fortalecimento de Papandréou e da democracia. Claro que os bancos franceses e alemães estão em pânico, que são os que têm mais a perder com o calote que se aproxima. França e Alemanha terão que agir rápido, se querem manter a União Europeia viva. Possivelmente providenciarão novo “perdão” que deixará a dívida grega em 85% do seu PIB. Caso não façam, o calote será inevitável e necessário para a sobrevivência grega. De um modo ou de outro, o atual modelo da União Europeia, onde o comércio só favorece um lado da balança, terá que ser repensado. E isso graças à ousadia e malandragem de Papandréou – embora , curiosamente, a opinião do Globo de hoje declare que ele, “com a manobra, (tenta) salvar seu futuro”. Pode ser que ele esteja salvando o futuro da Europa.