sábado, 10 de setembro de 2011

Paul Krugman e os bancos centrais


O economista (Prêmio Nobel) Paul Krugman publicou há dois dias um artigo (“Setting Their Hair on Fire”, traduzido na Folha de hoje) que tem tudo a ver com a decisão do nosso Banco Central de baixar juros e que tanto chocou nossos “analistas de plantão”. O artigo é sobre o discurso de Obama com o plano para redução das taxas de desemprego que apavoram os Estados Unidos (e o mundo...), mas ele faz um parêntese para “discorrer sobre outro discurso econômico importante da semana, pronunciado por Charles Evans, presidente do Federal Reserve de Chicago”. Evans teria afirmado que “o Fed (Banco Central de lá), tanto em função da lei quanto por responsabilidade social, deveria se esforçar para manter tanto a inflação quanto o desemprego baixos”. Guardadas as devidas proporções, isso me lembra o que escrevi neste Blog na semana passada: “(O Banco Central) não pode esquecer que não existe ‘sistema financeiro forte e eficiente’ sem princípios sociais”. Infelizmente, não é assim que entendem nossos analistas do mercado financeiro. Como diz Krugman, “hoje em dia, falta convicção aos homens e mulheres supostamente sábios que deveriam cuidar do bem estar da nação”.
Abaixo, o texto traduzido pela Folha, e você pode ver o vídeo do The Wall Street Journal onde o nosso Banco Central é tratado como "vanguarda".

Ateando fogo aos cabelos
Paul Krugman

Devemos ser gratos a Obama por ele perceber até que ponto a situação do emprego é desesperada
O novo plano de emprego do presidente Barack Obama me surpreendeu de maneira positiva. É muito melhor e mais audacioso do que eu esperava. Caso venha a ser aprovado, é provável que reduza o desemprego de maneira substancial.
Não é provável que o plano seja aprovado, evidentemente, graças à oposição do Partido Republicano. E tampouco é provável que qualquer coisa mais aconteça para ajudar os 14 milhões de americanos que estão sem trabalho. O que representa tanto uma tragédia quanto um ultraje.
Antes de chegar ao plano de Obama, permitam-me discorrer sobre outro discurso econômico importante da semana, pronunciado por Charles Evans, presidente do Federal Reserve de Chicago. Evans declarou sem meias medidas aquilo que alguns de nós esperávamos há anos ouvir de um dirigente do banco central.
Evans afirmou que o Fed, tanto em função da lei quanto por responsabilidade social, deveria se esforçar para manter tanto a inflação quanto o desemprego baixos – e embora a inflação provavelmente deva continuar perto ou abaixo da meta de cerca de 2% adotada pelo banco central, o desemprego permanece extremamente elevado.
Qual deveria ser a reação do Fed, portanto? Evans: "Imagine que a inflação estivesse correndo próxima aos 5%, ante nossa meta de 2%. Há alguma dúvida de que um dirigente competente de banco central reagiria de maneira vigorosa para combater uma inflação tão alta? Não. Estariam agindo com se os seus cabelos estivessem pegando fogo. Deveríamos trabalhar de maneira semelhantemente enérgica para a melhora das condições do mercado de trabalho".
Mas o cabelo do Fed não está em chamas, e a maioria dos políticos tampouco parece considerar a situação urgente. Hoje em dia, falta convicção aos homens e mulheres supostamente sábios que deveriam cuidar do bem estar da nação, enquanto os piores, representados por boa parte do Partido Republicano, estão repletos de intensidade apaixonada. E por isso os desempregados terminam abandonados.
Bem, quanto ao plano de Obama: requer US$ 200 bilhões em novos gastos -boa parte dos quais em coisas das quais necessitamos de qualquer maneira, tais como reparos nas escolas e redes de transporte, e medidas para evitar a demissão de professores - e US$ 240 bilhões em cortes de impostos.
O montante pode parecer muito elevado, mas não é. O efeito persistente do estouro da bolha na habitação e a dívida domiciliar remanescente criam um rombo anual de cerca de US$ 1 trilhão na economia dos EUA, e o novo plano -que não concretizaria todos os seus benefícios no primeiro ano - só supriria em parte essa lacuna. E não está claro até que ponto os cortes de impostos seriam efetivos como estímulo ao consumo e investimento.
Ainda assim, o plano seria muito melhor que nada, e parte de suas medidas, especialmente as destinadas a promover incentivos à contratação de pessoal, poderiam produzir resultado alto em termos de empregos gerados.
O cabelo de Obama talvez não esteja em chamas, mas certamente está soltando fumaça e devemos ser gratos por ele perceber até que ponto a situação é desesperada.