sábado, 24 de setembro de 2011

Cordel Encantado, encantamento de cabo a rabo



“Assim como há gente que tem medo do novo, há gente que tem medo do antigo”, começa Augusto de Campos o seu delicioso “verso reverso controverso”. As autoras de Cordel Encantado, Thelma Guedes e Duca Rachid, mostraram que não têm medo nem do novo nem do antigo. Fizeram um trabalho preciso de valorização do nosso velho e querido Nordeste, reavivaram um dos elos mais marcantes da formação de sua cultura, o mundo medieval, e encantaram o novíssimo mundo, em novela riquíssima “de história, de texto, de direção, de interpretação, de direção de arte, figurino, cenário, produção musical e tudo mais”, como já disse aqui neste Blog (Carcará Encantado), uns quatro meses atrás. No final, apresentado ontem, o realce do maniqueísmo, também herdado da Idade Média, através da Igreja Católica, tão presente no universo nordestino, e que foi personificado principalmente por Jesuíno (“Jesus”) e Timóteo (“Respeita a Deus”). “A maldade sempre vai existir. O que nós nunca podemos esquecer, jamais, é de ter fé e esperança”, filosofa o profeta Miguezim (“Igualzim a Deus”). “O importante é a gente estar sempre junto, não é mesmo?, sabendo que pode contar uns com os outros, e lutando pelo Bem”, completa Jesuíno, em uma quase-ressurreição de Francisco Julião.
A sequência final do casal Jesuíno e Açucena (“Singela e Branca Flor”, em tupi) assistindo exibição de trovadores nordestinos foi excelente. E a frase-homenagem que as autoras escolheram para se despedir não poderia ser melhor:
ESTA OBRA É DEDICADA AOS POETAS POPULARES DO NORDESTE E AOS TROPICALISTAS QUE, A PARTIR DELES, NOS REINVENTARAM”.