sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A autonomia do Banco Central está em “cheque”


É isso mesmo, o Banco Central o tempo todo tem que checar nossa economia, saber o que é melhor para torná-la mais forte, buscar contribuir para que a sociedade seja beneficiada pelas ações econômicas. Está lá em destaque no seu site qual é a missão: “Assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro forte e eficiente”. Ou seja, tem que controlar a inflação, com certeza, mas não pode esquecer que não existe “sistema financeiro forte e eficiente” sem princípios sociais. Pode parecer meio tatibitate, mas essa é que é a verdade. A autonomia do Banco Central só ficará em jogo se ele se desviar da missão que tem e entrar no jogo do cassino financeiro. O resto é blefe oposicionista.
O Banco Central mostrou que, como todo o Governo, está sintonizado não apenas na economia brasileira, mas também no momento da economia mundial. Temos que ficar de olho na inflação sem perder de vista a retração de Estados Unidos/Europa. Para nos proteger, temos que valorizar o mercado interno, evitar os países “chupa-cabra” e proteger nossa moeda para aumentar as exportações. Quem não pode ficar em xeque é o País.
Gostei da análise feita ontem pelo colunista da Folha, Vinicius Torres Freire, na contramão dos analistas convencionais:

JURO DESPENCAVA NO MERCADO DESDE JULHO
BC será criticado por "falta de autonomia", mas finança também previa piora grave na economia mundial

Hoje será dia da divulgação de notas de falecimento da autonomia do Banco Central e de diagnósticos sobre o enlouquecimento de seus diretores. O motivo, claro, terá sido a decisão do BC de baixar a taxa "básica" de juros de 12,5% para 12%, como que atendendo a pedido quase explícito de Dilma Rousseff.
Para juntar insulto à injúria, o talho nos juros ocorre quando a inflação ainda anda pela casa dos 7% anuais.
Mas, antes de assistir ao teatro das reações estereotipadas, é preciso prestar atenção a uns fatos da vida.
Primeiro, lembre-se que a taxa "básica" de juros futuros no mercado começou a desabar no início de agosto.
Em termos reais, descontada a inflação, caiu de 6,9% no final de julho para 5,9% em 19 de agosto. Ontem, estava em 5,5%. No pico da campanha de juros do BC, fora a 7,2% (início de julho).
O que houve no início de agosto? O tumulto da dívida dos EUA. Medo de calote de governos e quebra de bancos na Europa. Histeria no mercado financeiro. Ficou claro que a economia do mundo rico voltaria ao vinagre.
O mercado ajusta sua taxa "básica" com um olho na economia real e outro na política de juros do BC.
Em agosto, o governo começou a falar em novo "mix" de política econômica para enfrentar a crise mundial rediviva: menos gasto ajudaria o BC a reduzir juros; o BC insinuou ter gostado da ideia.
No mundo rico, ficou claro que não haveria gasto público adicional para estimular economias em quase coma. A recaída recessiva mundial bateria no Brasil, que também cresceria menos e, assim, teria menos inflação.
Logo, a tendência dos juros seria, em tese, de queda. O BC usou ontem esse argumento para justificar o corte dos juros. Mas o mercado vinha na mesma toada.
Segundo, note-se que, se o BC está louco, não é de agora. Desde o início do ano diz que a fraqueza da economia mundial levaria preços importantes para baixo, como os de commodities (petróleo, comida, minérios). Nessa campanha de alta de juros, forçou bem menos a mão que a diretoria do BC anterior, nas altas de 2008.
O Banco Central está certo? A prova do pudim será comê-lo. Pela nota divulgada ontem, o BC pinta um quadro muito ruim para a economia mundial e, mais importante, acha que o Brasil será contaminado de modo relevante, o que não é consensual.
Antes mesmo do corte de ontem, BC e mercado já divergiam sobre a inflação. Com Selic a 12,5%, o BC previa inflação de 4,8% em abril de 2012. O pessoal mais certeiro do mercado previa pelo menos 5,6%.
Pode ser que dê errado. Ainda assim, não haverá "descontrole inflacionário". Enfim, os problemas econômicos do Brasil estão muito além de meio ponto para cá ou para lá na taxa de juros.