terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Wikileaks X US-leaks: quem espionou quem?



Acho que já está mais do que claro que o Wikileaks (o wikileaks.com está fora do ar por imposição americana, mas pode ser acessado o site brasileiro ou o Twitter) não roubou segredos americanos. O que realmente fez foi divulgar informações sigilosas que recebeu de um cracker. Exatamente o que, indiretamente, fizeram e continuam fazendo The Guardian, The New York Times, Folha de São Paulo, O Globo, e muitos órgãos de comunicação em todo o mundo. Claro que é grave a divulgação de informações que comprometem toda a diplomacia internacional – mesmo considerando a luta pela transparência. Mas o mais grave é a arrogância americana em toda essa questão. Arrogância que transparece no conteúdo do que foi divulgado e arrogância pela displicência na sua segurança. Mas existe mais uma questão: segundo informa o site do Council on Foreign Relations (Foreign Affairs), o Departamento de Estado americano pensa em usar todos os argumentos e toda sua força para processar o responsável pelo Wikileaks, Julian Assange, por espionagem. Pretende enquadrá-lo no Ato de Espionagem e obter extradição junto à Inglaterra ou à Suécia. Mas o que fazer então com a Secretária de Estado Hillary Clinton, que teria mandado espionar diplomatas da ONU? Ela – ou o governo que representa – não se enquadra no Ato de Espionagem americano? Vai sair dessa impunemente? Não pode haver extradição? Claro que o governo americano não pode se considerar espião. Mas e o resto do mundo, como fica? A minha sugestão é que o Tribunal de Haia (Tribunal Internacional de Justiça ou Corte Internacional de Justiça, principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas) pronuncie-se a respeito. E que o governo americano pare de jogar na conta do Wikileaks todo o peso da sua incompetência.