quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tomada do Alemão: The Day After


Para falar sobre o “day after”, fui procurar informações no passado e liguei para o recém-eleito Deputado Estadual (PT-RJ) Zaqueu Teixeira, que foi Chefe de Polícia do Rio de Janeiro, em 2002, durante o governo petista de 9 meses de Benedita da Silva, e que sempre revelou afinidade com o Complexo do Alemão. Em setembro de 2002, ele também ocupou o Alemão, com cerca de 600 policiais civis, em busca de Elias Maluco, o chefão do tráfico que tinha matado o jornalista Tim Lopes. A tensão, na época, era muito grande, havia imensa pressão da imprensa e da sociedade para que Elias Maluco fosse preso a qualquer custo. Zaqueu lembra que a primeira coisa que fez foi isolar o Alemão da Vila Cruzeiro, com um bloqueio exatamente ali onde todos nós vimos na semana passada cerca de 200 traficantes fugindo desesperadamente. Ele queria ao mesmo tempo evitar a fuga dos bandidos do Alemão e inviabilizar um ataque vindo da Vila Cruzeiro. Durante 3 dias fizeram trabalho de inteligência e de busca no local, e finalmente prenderam Elias Maluco. “Sem dar um tiro”, ele se orgulha, “apenas com uso da inteligência”.
E sobre essa tomada do Alemão feita agora? “Foi excelente”, ele responde, “foi importantíssima. Garantiu a presença do estado e o fim do império do medo”. Zaqueu se entusiasma com a ação policial e, embora não tivesse participado diretamente dela, gosta de sentir-se participante. Lembra que quando estava no Ministério da Justiça, durante apresentação da proposta do PRONASCI (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) para Lula, ele falou do Complexo do Alemão, sobre como tinha ocupado anteriormente e sobre a necessidade de ocupá-lo definitivamente. E acrescenta: “Como disse o Governador Sérgio Cabral, o PRONASCI é o pai e a mãe das UPPs”.
Para Zaqueu, a tomada do Alemão foi um golpe mortal na facção criminosa mais poderosa do Rio. “Perderam armas, perderam homens, perderam o quartel-general, perderam a droga que tinham em estoque, perderam a credibilidade. E ainda estão com grande dívida no mercado, porque essa droga é entregue na base da consignação. Eles precisavam vender para poder pagar – e como perderam, só ficaram com a dívida. Não deve demorar muito para todos eles ou a maioria serem presos”.
E daqui pra frente? “Daqui pra frente é a presença do estado. As forças de segurança têm que liberar os territórios dominados pelo tráfico e as UPPs têm que se alastrar. Ação policial para consolidar a conquista do território e ação social muito forte, apoio à economia dos locais liberados, cidadania para todos. É aí que entra o PRONASCI com todos os seus Programas. O Protejo, por exemplo, incorpora o jovem que vivia na franja do tráfico e abre uma perspectiva para que ele possa conquistar emprego, ter profissão, possa ter futuro. O Mulheres da Paz é outro projeto que tem como objetivo incentivar as mulheres da comunidade a ajudar a desenvolver, coordenar e fortalecer a prevenção e o enfrentamento às violências que envolvem jovens expostos. De imediato o importante é que o Governo não permita que outros bunkers como o do Alemão se desenvolvam”.
Existe esse risco? “Existe, sim. O perigo mais iminente me parece que é a Mangueirinha, em Caxias, que já está até sendo tratada como “Complexo”. (É verdade, verifiquei que até no verbete “Mangueirinha” da Wikipédia podemos ler que “atualmente o complexo tem recebido muitos traficantes oriundos de comunidades pacificadas da cidade do Rio de Janeiro”.)
Você acha, como o Luiz Eduardo, que o tráfico "é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas – mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente"? “Acho que há mudança, sim, nesse perfil do tráfico. Mas não podemos nos iludir, isso não pode frear a ação do estado. Quero acrescentar que o tráfico não é burro e já assimilou o método da milícia. Na Ilha do Governador, eles já não se restringem à droga e exploram também o gatonet, o gatogás, o gatotudo”.
E o que você acha do Exército substituindo a polícia no Alemão, até que seja implantada a UPP? “Pessoalmente, prefiro a Força Nacional, acho melhor preparada e já provou isso. Mas acho que essa é uma questão que vai se intensificar até 2014: quem vai comandar a segurança da Copa – a Força Nacional, que comandou com sucesso durante o Pan, ou as Forças Armadas, que estarão no comando do Alemão?”
Realmente, é uma disputa política que promete ser forte, entre o Ministério da Justiça petista e o Ministério da Defesa peemedebista. Mas o principal no nosso “day after” é a conclusão de que agora podemos vislumbrar um novo Rio de Janeiro, sem submissão a narcotraficantes e com uma vida pacificada. Ainda falta muito, claro, mas o futuro já foi disparado.