segunda-feira, 29 de março de 2010

O PT-RJ tem razões que a própria razão desconhece

Ontem, na prévia para indicar seu representante na disputa para o Senado, o candidato Lindberg, atual prefeito de Nova Iguaçu (RJ), saiu vitorioso, enfrentando Benedita da Silva, atual Secretária de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Até aí, nada demais. Afinal, ao contrário de José Serra, de um modo geral considero o instrumento das prévias bem salutar. O resultado também já era apontado como o mais provável. Mas, sinceramente, por mais que reconheça o grande valor eleitoral de Lindberg, acho que a sua escolha foge à lógica.
Pergunto, sem emoção alguma, apenas buscando uma razão para tudo isso, como é que um partido como o PT abandona sem mais nem menos (e com isso se complica localmente...) uma Prefeitura como a de Nova Iguaçu, conquistada graças a muito esforço do Governo Federal, sem nem ao menos contar com um Vice-Prefeito da mesma legenda? O argumento (que não é o verdadeiro, mas é o disponível...) é o da renovação. Lindberg tem 40 anos, Benedita 67; seu grupo substitui o grupo que dominava há algum tempo a direção estadual; sua movimentação é de mudança, de juventude. Mas será que isso basta, justifica o que foi feito?
Há o “raciocínio” de que Lindberg pretende disputar o Governo do Estado em 2014 e um cargo de Senador daria base para sua candidatura. Aí, então é que perco inteiramente o fio da meada. O seu desempenho como prefeito de Nova Iguaçu, que é da Região Metropolitana e tem 4,70% do eleitorado fluminense, seria um excelente cartão de visitas, e já estaria à mão (Garotinho usou, como vitrine para sua candidatura vitoriosa a Governador, exatamente a sua passagem pela Prefeitura de Campos, que é do Interior e conta com apenas 2,86% do eleitorado...). Lindberg poderia facilmente fazer um sucessor petista em 2012 e ampliar o seu prestígio. E, repito, isso tudo já está na sua mão, inclusive com o apoio de Lula que lhe disse claramente para cumprir o mandato até o final! A conquista do Senado agora tornou-se apenas uma incógnita. Principalmente considerando que, no momento, de acordo com todas as pesquisas, Lindberg está bem distante dos líderes, Crivella e Cesar Maia – ao contrário de Benedita, que lidera as pesquisas, já foi Senadora, tem forte base popular e apresentava chances reais de ser a mais votada. Isso, sim, poderia garantir ao PT (e a Lindberg) uma base forte para disputar o Governo em 2014.
Há quem desenvolva o “pensamento” de que Benedita “é boa de partida, ruim de chegada”, um absurdo, já que sempre aconteceu o contrário. Em 92 saiu do nada para uma final surpreendente contra Cesar Maia. Em 2000, contra tudo e contra todos, subiu vertiginosamente, sendo derrotada no final porque não teve o apoio do “aliado” Governador Garotinho. Em 2002, idem. Em todas as outras candidaturas, foi vitoriosa de cabo a rabo – Vereadora, Deputada, Senadora, Vice-Governadora.
No quadro atual, sem Benedita,o mais provável é que vençam Crivella e Cesar Maia. A campanha de Dilma certamente será bastante prejudicada, porque Lindberg será alvo fácil da direita no Rio de Janeiro. Até agora foi protegido porque a oposição sempre o considerou um adversário mais fácil. Um exemplo disso é Cesar Maia que inflou o seu nome o quanto pôde, mas hoje, no seu Twitter, após saber o resultado da prévia, a primeira coisa que fez foi divulgar a pesquisa Vox Populi para o Senado onde ele e Crivella aparecem lá na frente e Lindberg lá atrás...
Há quem pense que tudo bem, “o importante é que o PT construa o futuro”. Mas não existe futuro sem passado, não existem voos sem terra firme. O que o PT não pode é correr o risco de virar pato-ilógico (parafraseando MD Magno...).