quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Finalmente Cesar Maia falou

O silêncio de Cesar Maia sobre o panetonegate estava ensurdecedor. Ele sempre foi muito rápido e ferino com relação aos problemas “éticos” da política nacional e dessa vez, com o problema atingindo mortalmente o seu DEM, o silêncio não era bem-vindo e aguardava-se a sua quebra a qualquer momento. No seu Ex-Blog de hoje ele trata do assunto e se sai muito bem. A pretexto de uma “análise científica”, distancia-se, mostra-se superior. Parece até que o problema não aconteceu no quintal dele. Certo em fazer assim. O seu texto é bem instrutivo. E é interessante como sutilmente refere-se a vazamentos vindos de Serra e adverte, como se dissesse “Te pego lá na frente”. Os destaques em negritos são meus:

CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS DA CRISE DE BRASÍLIA!

1. Os reflexos na opinião pública, geral ou em estados, só se poderá medir quando os graves fatos divulgados forem sendo multiplicados pelos “opinion makers” localizados, que hoje têm uma enorme importância na aceleração dos fluxos de opinião. A divulgação de imagens com cenas de corrupção explícita dá ainda maior velocidade a esse processo.

2. Mas as consequências políticas e eleitorais já começam a ganhar forma. Para entendê-las há que se ler - por trás das matérias na imprensa e em especial das notas em colunas dos jornais - a origem dos vazamentos e as razões. Entre as histórias de Churchill, há uma, como deputado, relativa ao início da legislatura de 1935. A Câmara dos Comuns dispõe as bancadas do governo e da oposição de forma confrontante, separadas por um corredor. Um deputado estreante sentou ao lado de Churchill e quis mostrar serviço: Deputado, ali na frente..., nossos inimigos. Churchill sorriu e respondeu: - Não, meu caro. Ali na frente..., nossos adversários. Aqui atrás..., nossos inimigos.

3. Nas crises, a taxa de oportunismo cresce. Não se trata de caráter, mas da “dificuldade de se projetar cenários” e da sensação que o cenário de hoje será o mesmo de amanhã. Por isso mesmo os políticos deveriam se concentrar nessas projeções. Antecipar a luta pelo poder nos partidos, ou aproveitar os fatos para fortalecer setores nos partidos contra outros, é, no mínimo, imprudência, pois com o jogo aberto fica mais fácil identificar os atores. E nada ficará sem troco.

4. Evidente que a crise de Brasília não ajuda a oposição, hoje ou amanhã. O governo e o PT assistem da janela. A coincidência dessa crise, no mês definido como limite pelo governador de Minas, restringe a continuidade dos fluxos a seu favor, e tende a resolver de forma traumática a escolha do candidato presidencial. E nem seria necessário vazar, invertendo, a preferência do governador de Brasília. Essa é uma questão.

5. O desconforto já vinha com o Rio Grande do Sul, e várias vezes foi dito que se a governadora mantiver a sua candidatura, o candidato a presidente não poderá ir ao sul. Dada a importância do RS, esse já era um ponto delicado. Brasília era um ponto forte político da candidatura presidencial da oposição. Deixa de ser, se, não há nome para a disputa. A inércia no Estado do Rio deixa sem ponto forte de apoio em candidatura a governador. Os três representam 16% do eleitorado. Paraná dividiu. Espírito Santo idem. E assim todos os Estados com chapas mistas, onde as partes deixarão de lado a questão nacional.

6. No meio dos fatos, parte do PMDB decide colocar o nome do governador do Paraná como opção presidencial com apoio formal do PMDB-SP. Isso é lido como interferência do PSDB-SP na dinâmica interna do PMDB, o que só fortalece a maioria governista. Os riscos sobre os efeitos dos fatos - DF - em nível nacional e estaduais já tem desdobramentos. Leva o PSDB a tentar lavar as mãos e se afastar do problema, mesmo com sua sessão regional estando mergulhada neles. Estimula fortes candidaturas regionais a se tornarem independentes, no sentido de deixarem de ser palanque nacional. As desconfianças recíprocas crescem na base da oposição.

7. Crescerá a intensidade do discurso pela ética na política, reforçando a candidatura de Marina, que vinha patinando num patamar de 5%. Bem assessorada, pode entrar neste vácuo, desde que sem precipitação ou oportunismo. Vai crescer. E estimula também a candidatura do PSB, talvez até com novo tempo de TV agregado. A salada geral de casos assemelhados, englobando os quatro principais partidos brasileiros, que havia quebrado a auréola do PT, agora reduz relativamente este desgaste.

8. A conclusão clara é que o ano de 2010 abre contra a oposição e a favor da do governo. Isso exige que se gaste menos tempo com notinhas e vazamentos e muito mais com talento e esforço para se avaliar de que forma se minimiza o impacto ou mesmo se o reverte. Lembre-se sempre que Brasília, se não tem força eleitoral, tem todo tipo de interação política nos estados. O leque multipartidário das imagens mostradas, e a acomodação do PT, mostram que além das cenas de escândalos explícitos, fluxos menos visíveis hoje podem surgir amanhã.