quarta-feira, 10 de junho de 2009

Mídia dá destaque ao que Delfim trata como irrelevante

Tdos mundo viu as manchetes com "recessão no Brasil". Agora leiam a entrevista de Delfim Neto dada a Toni Sciarretta, publicada na Folha de hoje:
Em 2010 país já crescerá a 4%, afirma Delfim
Ex-ministro da Fazenda, o economista Delfim Netto afirma que é "irrelevante" o marco da recessão técnica, configurada pelos dois trimestres seguidos de contração. Para ele, o país sairá com facilidade do atual quadro, que poderia ter sido melhor se o BC tivesse instrumentos para garantir o financiamento às exportações e a rolagem da dívida privada.
FOLHA - Essa discussão sobre a recessão técnica é relevante? DELFIM NETTO - Essa discussão é completamente irrelevante. Como toda convenção, não significa mais do que isso: duas quedas continuadas e sucessivas do PIB. O importante é que tivemos uma queda generalizada. É uma situação que já passou, mas que foi bastante ruim.
FOLHA - Qual a sua avaliação?
DELFIM - É uma situação um pouco menos ruim do que se supunha. Os pessimistas esperavam 3%, e os otimistas, 1,5%. Acredito que no segundo trimestre tenha recuperado um pouquinho, mas você terá ainda notícias ruins.
FOLHA - Por que todos erraram?
DELFIM - Tudo isso é palpite. Ontem o mercado apostava em [PIB de] menos 3,5%. Leva à conclusão de que o mercado não sabe nada.
FOLHA - Qual a diferença em relação às recessões anteriores?
DELFIM - As grandes recessões que tivemos foram todas induzidas-aconteceu em 1981, 1982 e 1983. Induzidas porque você tinha um déficit externo que não era financiável. Aquela recessão produziu os resultados que dela se esperavam: o equilíbrio externo. Esta recessão é muito mais importada. Certamente, [a recessão] foi muito maior do que precisava se o BC pudesse usar sua musculatura para dar conforto para o sistema bancário. O BC agiu sempre na direção certa, mas sempre lentamente. O agente público do BC não tem segurança jurídica para tomar a responsabilidade que ele precisava. Age com essa autonomia restrita.
FOLHA - O senhor está se referindo apenas aos juros?
DELFIM - Não é só juros. Era dar conforto, garantir que podíamos financiar os títulos [privados] que estavam vencendo, que podíamos acelerar as exportações.
FOLHA - Como sairemos da atual recessão?
DELFIM - Vamos supor que não tenhamos crescido no segundo trimestre em relação ao primeiro -que o PIB fique constante; no terceiro trimestre, que cresça 1%, e, no quarto trimestre, mais 1%. Quando chegar ao final do ano, já está com crescimento próximo do positivo. De alguma forma, a política monetária terá algum efeito. Os investimentos do governo também estarão maturando. Quando estivermos nos aproximando do segundo semestre de 2010, vamos estar rodando entre 3,5% a 4%. Não é preciso um esforço gigantesco. Se isso acontecer, a eleição será com o Brasil a 3,8%, 4%, o que não é mau. Estamos fazendo o que pode ser feito no Brasil. Se comparar o esforço brasileiro com o chinês é uma piada. Eles têm muito mais recursos e outra estrutura.