segunda-feira, 2 de março de 2009

Fernando Henrique, um marqueteiro envergonhado

Fernando Henrique tentando a reeleição, em 1998 (foto de Roberto Stuckert Filho) Todos nós sabemos que a Oposição vive momentos difíceis, sem discurso, sem encontrar o caminho de ao mesmo tempo se opor a Lula e ter resultados eleitorais positivos. Fernando Henrique Cardoso, por seu passado de Sorbonne e de Presidente da República, acha-se (com alguma razão, claro) no direito e no dever de apontar a direção certa para a Oposição, ser o seu marqueteiro-mor. O seu artigo “O gesto e a palavra” publicado ontem no Globo e Estadão é um verdadeiro guia de marketing político – embora meio às avessas e bastante envergonhado. Antes, tentando mostrar que é um intelectual acima de qualquer populismo suspeito, ele cita momentos memoráveis de Churchill, Roosevelt e até Vargas, quando a palavra (em época de rádio, sem o poder da TV) teria mais valor do que imagens ou gestos: “Quando me recordo do “sangue, suor e lágrimas” dito por Churchill ao tornar-se primeiro-ministro em plena guerra contra o nazismo, do discurso em Fulton quando disse que uma ‘Cortina de Ferro descia sobre a Europa’, ou de vários pronunciamentos de Roosevelt como o de posse em plena Depressão, célebre pela frase ‘nada há a temer, exceto o próprio medo’ ou ainda de Getúlio Vargas no estádio do Vasco da Gama apelando aos trabalhadores, e comparo com a retórica atual, há um abismo a separá-los”. À margem das desculpas intelectuais, Fernando Henrique reconhece que há “algo de encantatório no modo pelo qual a política do gesto sem palavras (ou nos quais as palavras contam menos do que a forma) funciona substituindo o discurso tradicional”. Tentando resolver "o enigma da mensagem política", ele afirma que a Oposição precisa “inventar uma maneira de comunicar a indignação e as críticas que toque na alma das pessoas”. Fernando Henrique ainda esclarece que não está “dizendo que a comunicação política se resolve pela supressão do discurso analítico”. Mas conclui afirmando que programa político “só mobiliza a sociedade quando é vivido por intermédio do desempenho de personagens que tratam como próprias as questões sentidas pelo povo”. Na verdade, o texto marqueteiro de Fernando Henrique Cardoso trata de seu enigma político pessoal. Subir ou não subir em jegue? Comer ou não comer buchada? Ser ou não ser Sorbonne? Reportagem da Veja de 16 de setembro de 1998 mostra bem esse dilema:
Nas pesquisas qualitativas de Fernando Henrique, Nizan detectou que os eleitores viam o presidente como um homem distante dos dilemas do povo. Para corrigir, pediu a ele que desse mais entrevistas, num linguajar simples, e, em vez de falar que "os pescadores terão incentivos", deveria dizer que "você, pescador, terá incentivos". Recomendou que não fizesse o que não lhe é natural, como comer buchada de bode ou subir em lombo de jegue, coisas que FHC fez no passado. Por fim, copiou a campanha americana. Em 1992, o partido de Clinton tinha a mesma imagem de frieza com o povo e seu slogan foi feito sob medida: To put people first. Nizan só traduziu: colocou nas vinhetas da campanha: "Gente em primeiro lugar".
Vivendo atônito em um mundo onde uma imagem fala mais do que mil palavras, Fernando Henrique vai endoidar de vez quando concluir que a palavra "Lula" vale mais do que um bilhão de pixels...