segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Euclides X Dilermando: Ancelmo errou

A avó (Dirce) de um dos meus filhos é filha de Dilermando de Assis, militar campeão de tiro que ganhou fama maior por ter matado Euclides da Cunha. Ela sofreu muito na adolescência por ser tratada, erradamente, como "filha de assassino". Mobilizou-se na investigação do caso, chegou a escrever um livro, "Pai", e demonstrou - como aliás a justiça também fez - que Dilermando não foi assassino. Matou em legítima defesa. Na sua coluna de ontem no Globo, Ancelmo escreveu:
Tragédia da Piedade
Dia 15 de agosto, faz 100 anos que Euclides da Cunha foi assassinado, aos 43 anos de idade, pelo militar Dilermando de Assis, amante de sua mulher, Ana. (...) O júri da época aceitou a tese de Dilermando, de legítima defesa.
Na verdade...
Euclides foi à casa de Dilermando, no bairro da Piedade, e deu três tiros no amante de sua esposa. Mas o militar, campeão de tiro, conseguiu revidar e matou o escritor.
Ancelmo errou quando abriu sua coluna dizendo que "Euclides da Cunha foi assassinado". Ele mesmo reconhece em seguida que "
O júri da época aceitou a tese de Dilermando, de legítima defesa" e que "o militar, campeão de tiro, conseguiu revidar e matou o escritor". Há mais detalhes. Euclides chegou à casa onde estava Dilermando e a porta foi aberta por seu irmão, Dinorah, que tentou evitar o conflito. Euclides deu dois tiros em Dilermando (um na virilha e outro no peito); Dinorah correu para o quarto (possivelmente para pegar uma arma) e também foi atingido pelas costas (uma das balas não pôde ser extraída e acabou se alojando na coluna, tornando-o hemiplégico); Dilermando recebeu um terceiro tiro e só então revidou, matando Euclides da Cunha. 16 anos depois, vendo-se com a vida e a carreira perdidas, Dinorah suicidou-se. Se não me engano, o filho mais velho de Euclides também tentou matar Dilermando e acabou morrendo. Quando soube que outro filho também tentava matá-lo, Dilermando escreveu para Ana pedindo que ela procurasse evitar a loucura, porque o jovem poderia ser mais um a morrer. Diante desse quadro, certamente não é apropriado dizer que "Euclides da Cunha foi assassinado", já que não houve premeditação.