domingo, 30 de novembro de 2008

Empréstimo Caixa-Petrobras: o Globo dá aula de não-jornalismo

Quando alguém quer fazer o anti-jornalismo, certamente procura ocultar informações, usar informações falsas, etc. O que O Globo fez ontem e hoje sobre o empréstimo da Caixa para a Petrobras não teve nada disso. Foi tudo claramente errado, sem aparentar tentativas de ocultar informações. Vejam os títulos da primeira página e da página interna: “CEF não ouviu auditores no socorro jumbo à Petrobras” e “Operação fora do padrão”, respectivamente. Ainda na primeira página, podemos ler: “Contrariando a praxe, a direção da Caixa Econômica Federal (CEF) não consultou seus auditores para liberar os R$ 2 bilhões para a Petrobras em fins de outubro”. No subtítulo da parte interna também lemos: “CEF não consultou auditores antes de conceder crédito de R$ 2 bi à Petrobras, contrariando a praxe”. Mas logo no início da reportagem traz uma declaração do presidente da Associação Nacional dos Auditores Internos do banco (Audicaixa), Antonio Augusto de Miranda e Souza: “Devido ao tamanho e ao ineditismo do empréstimo de R$ 2 bilhões feito pela Caixa Econômica Federal (CEF) à Petrobras, os auditores da instituição financeira avaliam que deveriam ter sido consultados previamente para verificar os termos e as condições do negócio”. Ora, aqui começa a contradição da reportagem. Não foi dito que a auditoria seria uma praxe. Ao contrário, Antonio Augusto de Miranda e Souza declarou que, “devido ao tamanho e ao ineditismo (grifo noso), ele considerava que seria um procedimento “desejável e prudente” que daria “mais conforto à direção da Caixa”. O presidente da Audicaixa chega a afirmar que a consulta não é obrigatória. O desejo de dar uma notícia negativa para o Governo Federal foi mais uma vez mais forte do que exercer a boa prática do jornalismo. O Globo produziu em sua primeira página uma notícia que merecia menos do que uma coluna inteira. Como, aliás, fez hoje, em mais uma falha do bom jornalismo. Todos sabem que um erro de primeira página mereceria uma correção de primeira página. Mas o Globo escondeu em menos de uma coluna a correção feita pela Caixa: “auditores não precisam ser consultados”. Simplesmente porque “a função deles é auditar as operações já realizadas”. Tudo tão óbvio, não é mesmo? Então por que toda a presepada? Essa reportagem do Globo deveria fazer parte de todos os cursos de jornalismo do país. É um desserviço que pode acabar servindo a um bom jornalismo.