segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Apesar da fraude, Obama deve ganhar

É notório e notável a capacidade americana de fraudar eleições. Lá é pior do que no terceiro ou quarto mundo. Às vezes, ainda se consegue alguma mobilização para se tentar evitar o roubo exagerado - como aconteceu nas duas últimas eleições de Bush -, mas o final tem sido desolador. Nas eleições desse dia 4 de novembro, não deverá ser muito diferente. A diferença é que o candidato Democrata Barack Obama está tentando vencer com uma diferença maior do que a do roubo. O seu eleitorado (negros, jovens, novos eleitores em geral) é mais suscetível ao roubo. Mesmo assim espera-se que mais e mais pessoas atendam ao apelo Obama. Vale a pena ler a extrevista de a publicada hoje no Globo:
'Acho que a eleição vai ser roubada na Flórida'
Professor da Universidade de Chicago diz que fraudes persistem mas não serão suficientes para tirar a vitória de Obama
ENTREVISTA Greg Palast
Rumores insistentes de que fraudes estão acontecendo na Flórida não são apenas boatos, segundo o jornalista Greg Palast, autor do best seller “A melhor democracia que o dinheiro pode comprar”, no qual ele demonstrava como votos foram fraudados na eleição de 2000, na qual George W. Bush foi eleito por uma pequeníssima margem de votos. Repórter investigativo da BBC e do jornal inglês “Observer”, ele estima que 6 milhões de eleitores poderão ser impedidos de terem os votos contados por causa de fraudes na Flórida e no Colorado. “Mas a vantagem de Obama é tão grande que, até agora, isto não será suficiente para impedir sua eleição”, diz Palast, que também é professor da Universidade de Chicago.
Helena Celestino Enviada especial • MIAMI
O GLOBO: Existem rumores de fraudes, mas o senhor tem informações de que algo errado, de verdade, está acontecendo na eleição antecipada aqui da Flórida ou em algum outro estado?
GREG PALAST: Na Flórida, estão impedindo as pessoas de votar através de um sistema que eles chamam de verificação de eleitores. Nunca se fez isso antes, simplesmente porque nos Estados Unidos não existe nem carteira de identidade. Isto afeta especialmente os eleitores de primeira viagem — e dois terços deles votam em Obama. Este sistema já restringiu o direito de votar de 85 mil pessoas, quase todos negros, o que combina com uma longa história de racismo na Flórida. E, claro, lembremos que este foi o estado onde George W. Bush roubou a eleição em 2000, não deixando votar os eleitores respondendo a algum processo ou tendo algum registro policial.
O GLOBO: Mas esta lei não mudou na Flórida?
PALAST: Mudou. Agora, como em outros estados dos EUA, podem votar os que já cumpriram pena. O problema é que só aqui o governador tem de assinar um papel autorizando-os a votar.Resultado: quase meio milhão, grande parte democrata, estão esperando esta aprovação.Lembre-se de que nos EUA é muito fácil ter ficha criminal, e isso afeta a população mais pobre, majoritariamente eleitores de Obama. Ou seja, estão fazendo todo o possível para roubar a eleição na Flórida.
O GLOBO: Mas por que os democratas não estão entrando na Justiça eleitoral contra isso?
PALAST: Porque o Partido Democrata está com medo de ser visto como um partido de negros, especialmente no ano em que têm um candidato negro.
O GLOBO: Para o senhor, está sendo usada uma série de pequenos truques para mudar a vontade do eleitor?
PALAST: O pior é o expurgo de eleitores das listas, sob os mais variados pretextos. Esta eleição provavelmente vai ser decidida em três estados: Ohio, Flórida e Colorado. No Colorado, os republicanos estão tirando um a cada cinco eleitores das listas, acusando a Accorn, por exemplo, de ter registrado eleitores fictícios. Isto não é verdade, é ridículo. Mas quando os eleitores chegam às urnas, o nome deles não está na lista, e o voto é classificado como provisório. Isto significa que precisa ser confirmado depois, e que acaba não sendo contado. Acho que a eleição vai ser roubada no Colorado e na Flórida.
O GLOBO: Mas pelo menos as máquinas melhoraram, não?
PALAST: Não em todos os lugares, não nas áreas negras. Nas cidades grandes, a situação melhorou, mas não nas pequenas, como Jacksonville, por exemplo. Continua tendo o mesmo sistema, no qual é picotado fora o pedacinho do papel onde está escrito o nome do candidato que o eleitor não quer. Como em 2000, isso nem sempre acontece. Tem outro sistema em que é muito comum o eleitor votar num candidato e a máquina registar o outro. É incrível, mas isso ainda acontece aqui nos Estados Unidos.
O GLOBO: Do seu ponto de vista, estas fraudes impedirão a eleição de Obama?
PALAST: Acho que as fraudes podem levar ao roubo de 6 milhões de votos, mas isso, até agora, não parece suficiente para impedir a eleição de Obama. A campanha de McCain está completamente perdida, não consegue responder à crise econômica, e mesmo os que não gostariam de eleger um negro votam em Obama porque temem perder seus empregos. Dinheiro pesa mais que preconceitos. O problema é que as fraudes estão concentradas nos chamados swing states, os que ainda podem mudar o voto no Colégio Eleitoral. Pelas minhas contas, em 2000, 2 milhões de votos foram fraudados; em 2004, o número subiu para 3 milhões, e este ano serão 6 milhões. Mas a vantagem de Obama é tão grande que, mesmo com as fraudes, ele deve vencer