quinta-feira, 29 de maio de 2008

Garotinho e a segurança

Em primeiro lugar, quero dizer que não consigo ver o Garotinho como "chefe da quadrilha", como estampam os jornais. Em 94, quando fui dar um apoio na redação dos seus programas de TV no segundo turno da campanha para Governador do Rio de Janeiro, ele me falava entusiasmado de suas leituras e pesquisas sobre o tema segurança. E já alertava com algo assim:"É impossível resolver os problemas de segurança enquanto não forem presos os grandes figurões - inclusive das Forças Armadas - que estão por trás desses bandidos que aparecem na mídia". Em 98, quando fui chamado para coordenar o marketing de sua nova campanha a Governador, ele já estava ligado a Luiz Eduardo Soares (antes sondado por César Maia, parece) que deu a base (ou teria feito tudo...) do famoso livro de Garotinho sobre segurança. Fiquei impressionado como ele dominava o tema. Discorria com tranqüilidade, sem trocadilho, com toda segurança. Durante a campanha, ele deu um show sobre César Maia, até então (e ainda hoje) um Papa no assunto. Cerca de 10 meses depois de sua posse, ele me chamou e disse: "Gadelha, cola no Luiz Eduardo e pensa no marketing da segurança". Ele não queria com isso fazer apenas "marketing" (no sentido pejorativo"), mas demonstrar que estava inteiramente preocupado com a questão que ocupava cada vez espaço no noticiário. Ele se entusiasmou com tudo que fiz ao lado do Luiz Eduardo. Acompanhou com interesse todas as pesquisas e aprovou imediatamente a criação da "Nova Polícia". Lembro de suas palavras no Seminário Internacional sobre Segurança que realizamos: "Temos que dar melhores salários aos nossos policiais. Mas isso só não basta, porque a bandidagem sempre vai ter mais dinheiro para corromper. O que temos que fazer é mudar a mentalidade dos policiais para transformá-los em verdadeiros defensores da sociedade". Essa era uma preocupação permanente que tinha. Ficava revoltado com o alto grau de corrupção no meio policial. Por isso tudo, não posso acreditar nas notícias que o associam a "formação de quadrilha armada". Prefiro acreditar que sua ambição política, trilhada com muitos erros políticos, fez com que ele perdesse eficiência em sua cruzada pela segurança pública. Garotinho nunca foi um garotinho. Mas daí a achar que ele é um chefe de quadrilha é um pirulito grande demais.