quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Eleição americana: as lições de New Hampshire

A primeira lição que devemos ter das primárias de New Hampshire para a indicação do candidato Democrata à Presidência da República é simples: não esquecer nunca que o sistema eleitoral americano é uma grande maluquice. Um exemplo é a ordem dos nomes na cédula de votação. No jornal O Globo de hoje, "Jon Krosniak, professor de ciências políticas da Universidade de Stanford, na Califórnia, apontou um fator técnico como provável causa do erro (das pesuisas): a cédula de votação democrata desta vez apresentou a lista de candidatos em ordem alfabética, por sobrenome, e não de acordo com o seu prestígio popular com base nas pesquisas nacionais, como era costume. — Dessa forma o nome de Hillary (Clinton) aparecia logo no alto, com o de Barack (Obama) no pé. Pelos meus cálculos isso deu uma vantagem de pelo menos três pontos percentuais a ela. Muita gente marca o primeiro nome que salta aos seus olhos — afirmou ele". Há também o fator "caucus" versus "primária". No "caucus (como em Iowa), temos assembléias partidárias, onde há discussão e mais engajamento político, envolvimento mais efetivo. No sistema de "primária", temos voto direto e secreto. Há também a possibilidade de flutuação do eleitor, votando suprapartidariamente. Em Iowa, a participação do Partido Republicano foi menor, o que permitiu a Barack Obama conquistar votos fora do Partido Democrata. Outra lição, foi ouvir mais o experiente Bill Clinton. O consultor político de Hillary (esqueci o nome agora) foi para escanteio e Bill Clinton pôde assumir melhor o comando. Se Hillary perdesse, ele seria o grande derrotado (como falei aqui) - e certamente o cachê de suas palestraas cairiam substancialmente. Aparentemente, partiu de Bill e seus assessores (colocou James Carville de novo em cena) a orientação para as lágrimas de Hillary. Ela pôde descer de seus sapatos altos e apresentar uma face mais humana, mais feminina, mãe, mais tradicional, mais emotiva. Ela não pode de forma alguma tentar a marca da "mudança", porque ela já pertence a Obama. E a "mudança", como ela queria antes, soava muito mais como "arrogância". Não parecer arrogante cabe agora a Obama, com uma dificuldade: ele não pode chorar. Está com a marca da juventude, do entusiasmo e não pode se fazer de fraco nessa hora. Nem as mulheres querem isso. E os negros muitos menos. Em Nevada, no próximo dia 19, Obama conta de novo com a vantagem de um "caucus", com maior participação de movimentos organizados que apóiam a sua candidatura. A disputa está muito boa.