sexta-feira, 4 de maio de 2007

Eleição francesa, Cesar Maia e marketing eleitoral

Já falei aqui e vou repetir: por mais que não concorde politicamente com Cesar Maia, reconheço nele seu afinco em questões importantes, como o marketing eleitoral. Também discordo de algumas análises que ele faz nesse campo, mas concordo em muita outras. Hoje, no seu Ex-Blog, ele traz duas boas discussões, a reprodução de trechos do artigo de Felipe González El País, sobre a eleição francesa e a reprodução de trechos da entrevista que o diretor de campanha de Tony Blair, Alastair Campbell, deu ao Le Monde, antes do debate do dia 2, sobre a campanha eleitoral francesa. Copiei do Ex-Blog essa entrevista logo abaixo. Antes, até para confirmar algumas idéias, reproduzo trechos do que escrevi aqui no Blog sobre o mesmo assunto.
No dia 30/4: "Segundo pesquisa CSA feita dia 25, com 1005 eleitores, pelo telefone, a principal qualidade do candidato direitista na eleição presidencial francesa Nicolas Sarkozy é a solidez. A principal qualidade da candidata socialista Ségolène Royal é a simpatia. Nos demais itens as diferenças não são tão significativas. Como os dois estão tecnicamente empatados para o 2º turno no próximo dia 6, parece que a decisão vai ser no photochart, a favor de quem melhor souber aproveitar seus pontos fortes." (Eleição francesa: entre a "solidez" e a "simpatia") No dia 3/5: "Desde a roupa (escura-masculina, ao contrário da sua roupa tradicional branca-feminina) até a contundência, Ségolène Royal procurou demonstrar que pode disputar de igual para igual com qualquer candidato. É possível que suas pesquisas tenham indicado esse caminho como o melhor para conquistar o eleitor indeciso, até agora ainda não convencido de que basta a simpatia para resolver os problemas franceses. Veremos as novas pesquisas. Creio que ela ganhou a batalha, embora ainda falte alguma coisa para vencer a guerra do próximo dia 6." (França: esquerda e direita em debate) No mesmo dia 3/5, mais tarde, depois da primeira pesquisa sobre o debate: "É curiosa também a percepção que se passou a ter de cada um após o debate. Ségolène cresceu em competência, coragem e dinamismo e caiu em simpatia. Ao contrário, Sarkozy cresceu em simpatia, caiu em tranqüilidade e um pouquinho em coragem. Os estrategistas de Ségolène podem ter errado na dosagem de "mais competência, menos simpatia". Afinal, como já tínhamos visto aqui no Blog, simpatia era o ponto forte de Ségolène a ser explorado. Daqui de longe, achei que ela tinha se saído melhor. Mas não sou eleitor francês." (França: após debate)
Mostro esses trechos para procurar demonstrar que em marketing - eleitoral ou qualquer outro - não há muito o que inventar. É importante não ter medo de fazer o óbvio. No entrevista de Alastair Campbell (conheça o seu blog), analisando a campanha francesa, podemos ver que ele fala coisas muito próximas.
Le Monde - Antes do debate televisivo entre Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal, quais conselhos o senhor daria aos dois candidatos? Campbell - Eles devem utilizar o debate para consolidar os seus pontos fortes e sublinhar as fraquezas do seu adversário, mas também para corrigir as fraquezas que lhes são atribuídas por outros. Não se trata para eles de reconhecer abertamente as suas supostas fraquezas, e sim de mantê-las em mente, e de se lembrar de que é por causa delas que uma parte dos eleitores não votou neles no primeiro turno. Simultaneamente, eles devem presumir que uma minoria substancial do seu público está disposta a conceder-lhes o benefício da dúvida. Le Monde - Será que eles precisam se limitar às mesmas mensagens políticas que eles apresentaram antes do primeiro turno? Campbell - Sim. Se eles mudassem fundamentalmente as suas mensagens, isso tornaria os eleitores desconfiados. Eles devem prosseguir a sua estratégia de campanha, tentando explicar por quais razões ela é perfeitamente compatível com o fato de uma parte do eleitorado não tê-los escolhido no primeiro turno. Le Monde - O senhor acredita na importância das "pequenas frases" num debate deste tipo? Campbell - Sim, sem dúvida. Mas elas precisam significar algo para aqueles que se pretende convencer, corresponder àquilo que os eleitores pensam estar no cerne da sua escolha, a um dos temas dominantes da campanha. Le Monde - Será que Nicolas Sarkozy ainda pode "suavizar" a sua imagem? Campbell - A essa altura da campanha, é perigoso deixar o público e a mídia pensarem que você quer mudar a qualquer custo. É por isso que os dois candidatos obterão melhores resultados, se eles tentarem reforçar, e, por assim dizer, destilar as duas ou três coisas essenciais nas quais eles acreditam. Le Monde - Será a imagem dos candidatos tão importante quanto o seu programa para convencer os indecisos? Campbell - O público de um debate televisivo baseia o seu julgamento na maneira com que se expressam os candidatos, na sua desenvoltura, mas também no domínio dos dossiês difíceis que eles mostram ter. As pessoas percebem se um debatedor compreende verdadeiramente aquilo de que está falando, se ele conhece a questão nos seus menores detalhes. Le Monde - Tony Blair inaugurou um estilo de comunicação muito direto com o público, que ainda não tem verdadeiramente um equivalente na França. Campbell - Nós estamos numa época em que o público sempre espera dos governantes que eles se expliquem. A qualidade da sua liderança depende em parte da sua capacidade de se explicar. Uma das grandes forças de Tony Blair não é apenas a sua força de convicção, como também o fato de ele acreditar na eficácia desta capacidade de persuasão. Isto foi a sua sorte e o seu azar: ter sido a personalidade política dominante no exato momento em que o universo da mídia estava impondo a sua onipresença. Uma sorte porque ele é um comunicador fantástico. Um azar porque ele teve diante dele meios de comunicação que não raro se mostraram venenosos.