sábado, 3 de fevereiro de 2007

Eleição da Câmara: não existe ciúme nem ansiedade, só existe 2010

Muitas reportagens sobre a recente eleição da Câmara e do Senado tratam a questão como se fosse briga de marido e mulher. "O Deputado tal ficou com ciúme do outro Deputado", "O partido tal estava com muita ansiedade"... Quem faz política de verdade tem metas e métodos bem definidos. Não há por que estranhar, por exemplo, a não-aliança entre PFL e PSDB. Os dois, com perfil eleitoral muito semelhante, precisam se diferenciar e um precisa conquistar o espaço (e votos) do outro. Além disso, hoje, os principais nomes para 2010 são Ciro, Serra e Marta, que precisavam participar do poder para chegarem fortes à disputa. Vamos lançar olhos sobre 2010:

Ciro, paulista, tem o Nordeste e boa inserção na região Sudeste. O partido (PSB) é pequeno, por isso ele precisava muito da vitória de Aldo. Isso enfraqueceria o PT, que poderia se sentir forçado a uma aliança sem ser o cabeça da chapa em 2010.

Serra, principal referência da Oposição, orientou os votos pensando em enfraquecer Ciro e o PFL e, ao mesmo tempo, fortalecendo-se com a viabilização de uma boa gestão em São Paulo. Ainda contou com a ajuda de Aécio (que deve pensar mais ou menos igual, mas perde no confronto direto com Serra).

O PT estava tateando em busca de um rumo para 2010. Precisava de qualquer maneira cacifar-se para a disputa. E isso significava reconstruir-se onde mais perdeu: São Paulo e toda a região Sul-Sudeste. O nome de Marta é o que mais se destaca e isso faz com que Mercadante se mantenha discreto.

Temos o PMDB, que não pretende disputar com nenhum nome. Mas que quer chegar a 2010 com poder ampliado para dividir entre seus caciques.

Temos o PFL, que luta para deixar de ser sombra e poder fincar sua própria bandeira conservadora no Planalto. Apesar de contar com políticos habilidosos, o PFL tem dificuldade em conquistar simpatias com sua "modernidade conservadora".

Ao contrário do que se fala, o Governo Lula saiu fortalecido com a vitória de Chinaglia, porque precisava cuidar do seu calcanhar de Aquiles eleitoral, São Paulo e a região Sudeste. O PAC já é um bom passo nesse sentido, mas com o fortalecimento do PT (e até do aliado PMDB) o passo será maior.