sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Os soldados da borracha de Larry Rohter

Fotos de Almeida e Wolney de Oliveira, NYT
Larry Rohter, o correspondente do New York Times no Brasil, que ficou famoso e mal visto entre nós por falar mal da cachacinha de Lula, produziu uma reportagem e um vídeo para o site do seu jornal, bem bonito, que ele mesmo narra, sobre os “soldados da borracha brasileiros” ("Brazil's rubber soldiers"). Para quem não sabe, os “soldados da borracha” atuaram entre 1942 e 1945 e foram o principal contingente brasileiro durante a Segunda Guerra. Esse contingente contou com 60.000 homens, contra os 20.000 que foram enviados para a Itália. Perdeu 30.000, contra os 454 que morreram na Itália. Foi formado por causa da necessidade americana de garantir a produção de borracha, já que a produção asiática estava sob controle japonês. A primitiva e praticamente abandonada produção de borracha amazônica foi reativada a partir de um grande conto do vigário. Foram recrutados trabalhadores nas regiões mais pobres (principalmente o Nordeste) com a promessa de um Eldorado. Riqueza fácil, que era garantida, antes do embarque, por um soldo diário de ½ dólar. A desorganização era total, a viagem levava pelo menos 3 meses e, logo, logo, nossos “soldados da borracha” transformavam-se em “escravos dos patrões da selva”. Acabou a guerra e os Estados Unidos trataram de romper os contratos com o governo brasileiro. Os nossos “soldados da borracha” foram esquecidos, sendo que muitos levaram anos para saber que a guerra tinha acabado. Alguns conseguiram sair do falso paraíso. Pouquíssimos ganharam alguma coisa. A maioria morreu. Eles só foram lembrados como veteranos da guerra com a Constituição de 88, que lhes garantiu uma pensão de 2 salários mínimos, dez vezes menor do que a dos que foram para a Itália. Ainda hoje, em diversas cidades brasileiras, no dia 1º de maio os “soldados da borracha” se reúnem para continuar a luta pelo reconhecimento de seus direitos. Na reportagem de Larry Rohter, um dos sobreviventes, de 86 anos, que vive em Rio Branco, Acre, declara: “Quando vejo na TV as comemorações do 7 de Setembro, com os veteranos de guerra perfilados, fico triste e desolado. Nós também fomos combatentes. Todo mundo nos deve um grande favor, até os americanos, porque a guerra não teria sido vencida sem a borracha e os soldados da borracha”.