terça-feira, 14 de novembro de 2006

Jornal tem futuro?

Na década de 50, 60, Hermano Alves era um repórter político de sucesso, que virou Deputado Federal e que ganhou projeção ainda maior por ter sido usado como um dos pretextos do Governo Militar de Costa e Silva para baixar o AI-5. Quando ele trabalhava no Jornal do Brasil, entrou um repórter em princípio de carreira chamado Luiz Gutemberg. Um dos prazeres de Hermano Alves era falar “Gutemberg, você é o princípio e o fim da imprensa”. Luiz Gutemberg tornou-se jornalista de sucesso sem jamais esquecer essa brincadeira do Hermano Alves, que ele odiava. Talvez quisesse provar que a imprensa à la Gutenberg ainda tinha muito chão e muita força. Mas essa indagação sobre o fim da imprensa nunca deixou de existir, seja associada ao fim das liberdades, seja associada a novas tecnologias. Agora vivemos o “fim” da imprensa fortemente associado à Internet e seus blogs. O jornal The Independent de ontem trouxe depoimentos sobre o tema feitos por várias lideranças da mídia internacional colhidos por Ian Burrel: Steve Auckland (Associated Newspapers), Helen Boaden (Head of news BBC), Tim Bowdler (CEO of Johnston Press), Jon Gisby (Head of Media Group - Yahoo! Europe), Bill Hagerty (Editor of the 'British Journalism Review'), Stefano Hatfield (Editor of News International's 'thelondonpaper'), Peter Hill (Editor of the 'Daily Express'), Simon Kelner (Editor of 'The Independent'), Will Lewis (Editor of the 'Daily Telegraph)', Andrew Marr (Broadcaster), Piers Morgan (Former editor of the 'Daily Mirror'), Gavin O'Reilly (President of the World Association of Newspapers – WAN and chief operating officer, Independent News & Media), Ian Reeves (Editor of 'Press Gazette'), John Ridding (CEO, 'Financial Times'), Alan Rusbridger (Editor of 'The Guardian'), John Ryley (Head of Sky News), Chris Ward (Commercial director, MSN), John Humphrys (Presenter of the 'Today' programme), Tessa Jowell (Secretary of State for Culture, Media & Sport), Sir Martin Sorrell (Ceo WPP Group), Nathan Stoll (Global head of Google News), Les Hinton (Executive chairman, News International), Andy Duncan (CEO, Channel 4). De um modo geral, diante da questão “o futuro dos jornais”, a maioria responde que o jornal tem futuro. Mas eles respondem de uma forma que parece que não acreditam muito no que dizem. Mostram números provando que as tiragens estão aumentando. Dizem que a qualidade é o diferencial. Ou que as verbas de publicidade não param de crescer. Ou que os jornais são a segunda mídia do mundo, perdendo apenas para TV, e por aí vai. Outros procuram conciliar jornal e Internet. Mas a verdade é uma só: o jornal, como existe hoje, não tem futuro. Haverá, sim, o jornal de novo tipo (sem trocadilho). A notícia quentinha, em primeiríssima mão, praticamente deixou de existir no jornal impresso há muito tempo. O que não quer dizer que ele vá deixar de existir inteiramente, pelo menos enquanto nós ou o nosso tipo de pensamento existirmos. Os editores precisam, isso sim, explorar mais a materialidade dos jornais para poder produzir informação de forma específica. Isso para ficar apenas na questão formal. Porque o principal é saber se o jornalismo, do jeito que está, tem futuro – independente de ser no papel ou na Internet. Com certeza, não há como aceitar que o jornalismo que vimos na nossa cobertura eleitoral tenha futuro. Como disse Raimundo Pereira em sua entrevista para José Dirceu, “depois que eles (os jornalistas) divulgam uma coisa que corresponde a um monte de interesses, eles dizem que aquilo é um fato, que todo o fato tem que ser divulgado por si, como se os fatos se apresentassem nas páginas de jornais por si”. Ainda repetindo Raimundo Pereira, “eu sou dos que acreditam que a verdade é concreta”. O problema é que, tanto no jornal impresso quanto em qualquer outro meio, o jornalismo predominante procura sempre o melhor “ângulo” para retratar uma verdade deturpada.
A título de curiosidade: 439 milhões compram jornal diariamente em todo o mundo. A circulação paga cresceu 0,56% em 2005 e não menos que 6% nos últimos 5 anos. Como veículo publicitário, o jornal é o segundo maior do mundo (30,2%) e é maior que a soma do rádio, outdoor, cinema, revistas e Internet. Nos últimos 5 anos, mais do que 6 bilhões de dólares foram investidos em tecnologia específica.
Trecho do depoimento de John Ryley, Head of Sky News: "Acho que os jornais têm futuro, sim. Mas são 7 e 40 da manhã, estou quase pegando um trem de Washington para New York, e outras 30 pessoas também. Metade delas está usando ou BlackBerries ou celulares. Duas delas estão lendo jornais. Financial Times e Washington Post. São leitores na faixa dos 40 anos. Diria que é uma imagem bem simbólica do futuro”.